terça-feira, 3 de julho de 2012

A Justiça non ecziste!

A Justiça non ecziste!
POR LUCAS AMURA – 1 DE JUNHO DE 2011
PUBLICADO EM: TEXTOS

O que é a justiça? É polêmico, mas para mim ela é só uma palavra, nada mais. Dizem por aí que justiça é o sentimento de se obter o justo, ou de se conseguir fazer o que é correto. Estudiosos teorizam o conceito de justiça como uma dicotomia entre o conceito objetivo e o conceito subjetivo.

Contudo, nada disso é concreto. Tudo não passa da argumentação filosófica, e quando se trata disso, não existe uma resposta única, exata, matemática. O que é justo para mim não necessariamente o é para você e vice-versa. Sempre!

Imaginemos a seguinte cena, adaptada da magnífica obra Os Miseráveis, de Victor Hugo. Um garoto rouba um pedaço de pão para dar de comer à sua irmãzinha esfomeada, mas é pego pelo padeiro, levado a julgamento e condenado a anos de prisão.

Aos olhos do padeiro, a justiça deve ser feita com a punição ao garoto, seja em forma de prisão ou de qualquer outra coisa. Afinal, o padeiro sofreu um prejuízo com o roubo; ele teve de comprar farinha, água, sal, precisou pagar a mão de obra, luz etc. para fazer o pão roubado. Justiça, pois, para compensar o prejuízo sofrido! Afinal houve perdas de bens materiais conseguidos com o esforço do padeiro, que lutou na vida para ter uma vida melhor e dar um pouco de conforto à sua família.

Mas vejamos pelos olhos do garoto. Órfão de pai, a mãe desempregada, a irmã ainda bem pequenininha chorando de fome. Sem dinheiro, porque ninguém quer empregá-lo como jardineiro, varredor ou limpador por algumas horas, nem ele quer ficar nos semáforos para vender chocolates e balas para depois entregar tudo para outras pessoas mais velhas que vão trocar o dinheiro por alguma substância entorpecente, tudo num sistema de escravidão moderna. Ao ver o choro desesperado de sua irmã, decidiu tomar uma decisão extrema: roubar de quem talvez não fosse sentir a falta do objeto furtado. Justiça, pois, para os indefesos que não têm nada, estão a morrer de fome e a sociedade (nós, você e eu!) sequer dirigimos nossos olhares a essas pessoas!

E agora?

A “justiça” de quem desses dois personagens deve ser aplicada?

Se você se sentiu tocada(o) pela história do garoto, coloque-se no lugar do padeiro e tente sentir o prejuízo em seu bolso. Ah, você já se colocou tantas vezes no lugar dele que não quer assumir, fale a verdade! As tantas vezes em que parou num semáforo e recusou uma moeda, ou um pão a um pobre que tocou a campainha de sua casa. Vai dizer que nunca pensou algo como “se eu ficar dando alguma coisa para todos que me aparecem, vou acabar ficando sem nada!”.

Mas se você se sentiu tocada(o) pela história do padeiro, faça o inverso agora: fique no lugar do garoto e tente ver um familiar seu morrendo de fome, um filho, sua mãe ou algum irmão. Imagine-se incapaz de lhe oferecer nada e, não querendo se prostituir (nas possíveis acepções dessa palavra), decide roubar o alimento.

Será que você nunca se colocou numa posição assim, como, por exemplo, ao ver um familiar seu sofrendo de alguma doença no hospital e você, sem recursos para pagar o tratamento mais adequado, opta por um mais barato, sabendo lá no fundo de sua consciência que apenas estará postergando o inevitável? Enquanto isso, no quarto ao lado, um paciente sofrendo da mesma doença ou condição recebe todos os cuidados médicos e atenções necessárias só porque a família é financeiramente abastada e pode pagar tudo o que o hospital ou o plano médico exige. Vai me dizer que você nunca pensou algo do tipo “que mundo injusto!”.

É… Que mundo injusto mesmo! Mas é justamente daí que advém a negação “a justiça não existe”. É apenas uma palavra que provoca sentimentos contraditórios sempre que é proferida.

E o direito? Ah! Este sim existe! E o direito é mesmo matemático. Você faz isso, recebe uma punição; faz aquilo, e sua punição pode ser de outra forma ou multiplicada por todos os fatores que estiverem descritos nos códigos legais. E deles não adianta fugir, porque o que está escrito é o que está valendo. Viu como é fácil?

Mas direito não é nem nunca foi sinônimo de justiça. E mais uma vez, quando alguém diz que “justiça foi feita!”, há que se olhar o outro lado da balança. Alguma coisa foi realizada, sem sombra de dúvidas, mas não é justiça.

Porque essencialmente a justiça não existe.

Não passa de uma palavra inócua, insípida, incolor e completamente subjetiva.

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