
A tentativa de se realizar filmes de ação ou suspense com sotaque próprio, porém ainda com algum ranço hollywoodiano, permeia o imaginário de muitos cineastas fora desse circuito.
Afinal, conseguir mesclar gêneros cinematográficos consagrados junto ao grande público com a empatia de uma plateia específica pode render bons frutos. O brasileiro Tropa de Elite conseguiu atingir esta meta com bastante sucesso, apresentando um longa de ação calcado numa situação carregada de condimento tupiniquim. Já em O Pacto dos Lobos (Le Pacte des Loups/França/2001), o diretor Christophe Gans, do terror Silent Hill, entrega um filme composto por uma saraivada de subgêneros tipicamente americanos, e de forma bastante confusa.
Na época do lançamento o filme foi anunciado envolto por uma áurea de thriller, no qual uma vila francesa é atacada por uma fera mítica durante o século XVIII. Grégoire de Fronsac (Samuel Le Bihan), biólogo e explorador da corte francesa, é enviado à tal vila para caçar e estudar o estranho animal. Até aí tudo bem, e aquele indivíduo que foi assistir ao filme fisgado pelo trailer aguarda um aprofundamento do suspense.
Os rumos tomados pelo roteiro equivocado de Stéphane Cabel, entretanto, são outros. O roterista prefere abordar aspectos filosóficos e históricos franceses misturados com mitos de sociedades secretas, permeados por cenas de lutas repetitivas, criando um filme de ação épico mal resolvido.

A indecisão em escolher o que mostrar é a falha que torna o filme estranho e deixa a sensação de obra inacabada. Os poucos momentos de terror, quando o dito “monstro” aparece, perdem a força especialmente pelo emprego de um CGI meia boca.
Atentar para o volume totalmente desregulado do som também é importante; a edição sonora em filmes que se valem de efeitos visuais é de extrema importância, e em algumas cenas de O Pacto, as mais agitadas particularmente, o som está exageradamente alto, o que causa certo desconforto.
Bem, ignorando os percalços mencionados, é possível até se divertir. Apesar da pouca variação, as lutas até que são bem coreografadas, e os nomes fortes do elenco ajudam a alavancar o andamento da película. Além de Bihan, o filme conta ainda com Vicent Cassel (de Rios Vermelhos e À Deriva), Mark Decascos (de A Ilha do Dr. Moreau) e Monica Bellucci (de A Paixão de Cristo). Com a excessão de Decascos, que é ruim por natureza, Bihan e Cassel investem numa canastrice forçada, o que de certa forma diverte. Já a pequena participação de Bellucci é apenas comum, novamente são explorados os contornos generosos da moça sem dó nem piedade, o que é sempre algo instigante, mas nada tem de original.
O Pacto só não passará na Sessão da Tarde devido às cenas de violência e sexo. Passatempo cheio de problemas, pode ser encarado junto com um mega pacotão de pipoca e uma Coca-Cola que assustaria um Viking. Christophe Gans tem que comer muito feijão com arroz ainda.
Texto de Fábio Nazaré – Leia mais resenhas em O Gaveteiro

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